Agosto é dourado porque nenhuma joia se compara ao valor do leite materno. É com esse espírito que o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF) abraça mais uma vez a campanha nacional de incentivo ao aleitamento materno, reforçando que o gesto de amamentar é poderoso, transformador — e essencial, inclusive, para bebês que enfrentam desafios como doenças cardíacas congênitas.
Para o cardiologista pediátrico do ICTDF, Jorge Afiune, os benefícios do aleitamento materno vão muito além da nutrição. Eles tocam o desenvolvimento físico, emocional e imunológico do bebê, construindo as bases de uma saúde duradoura.
“O leite materno é insubstituível. Ele foi feito especialmente para o organismo humano, com uma qualidade nutricional que nenhum outro alimento consegue alcançar”, afirma o médico.
De acordo com Afiune, o leite materno ainda funciona como uma vacina natural.
“Ele carrega anticorpos e imunoglobulinas que ajudam a proteger o recém-nascido contra infecções nos primeiros meses de vida, especialmente em um período em que o bebê ainda está desenvolvendo seu próprio sistema imunológico.”
Outro ponto destacado por ele é o custo.
“Para muitas famílias de baixa renda, o aleitamento é uma questão de sobrevivência. Fórmulas lácteas são caras, e ainda assim não oferecem a mesma segurança nem o mesmo valor biológico que o leite materno.”
Além disso, o aleitamento também está associado à prevenção de doenças ao longo da vida.
“Estudos mostram que a amamentação reduz o risco de obesidade e, por consequência, ajuda a prevenir doenças como infarto e AVC. É um investimento em saúde a longo prazo”, destaca o especialista.
E os bebês com cardiopatias?
Segundo Jorge Afiune, a amamentação é não apenas possível, como recomendada para crianças cardiopatas.
“Não existe contraindicação ao aleitamento materno nesses casos. O que pode acontecer é que, dependendo da gravidade da cardiopatia, o bebê tenha mais dificuldade de sugar ou se canse facilmente durante a mamada. Mas isso é contornável com acompanhamento profissional”.
Mesmo em situações delicadas, como nas primeiras horas após cirurgias ou em internações com ventilação mecânica, o leite materno continua sendo o alimento mais indicado.
“O leite materno tem alta digestibilidade, o que é fundamental para um bebê que já está com gasto energético aumentado. Além disso, ele é rico em fatores imunológicos, o que ajuda a proteger contra infecções comuns nesse período de internação”, explica o médico.
O cardiologista também reforça que o processo de amamentar pode começar mesmo que o bebê não esteja apto a mamar diretamente no peito:
“É possível estimular a produção de leite, fazer a ordenha e oferecer por sonda, copinho, colher. O mais importante é garantir que esse bebê receba esse alimento tão vital, e que a mãe seja apoiada, nunca pressionada ou julgada”.
Apoio multiprofissional faz a diferença
No ICTDF, o processo é acompanhado por uma equipe multiprofissional, formada por enfermeiros, pediatras, fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos. Desde o nascimento, as famílias recebem orientações práticas, acompanhamento individualizado e apoio emocional para enfrentar os desafios da amamentação.
“Muitos dos nossos bebês ficam intubados, internados por semanas. Quando saem da UTI, precisam aprender a sugar, a respirar e se alimentar ao mesmo tempo. A equipe de fonoaudiologia tem um papel essencial nesse processo de reabilitação”, completa Afiune.
Uma fala de mãe
A segunda interventora do ICTDF, Lucylene Messias, também é mãe — e acredita no poder transformador da amamentação tanto como experiência pessoal quanto como gestora.
“Amamentar é um ato de amor, mas também de coragem. Como mãe, vivi as angústias e as alegrias desse processo. Como gestora, vejo diariamente o impacto positivo que a amamentação tem na recuperação e no fortalecimento de nossos pequenos pacientes. É um gesto que carrega saúde, vínculo e dignidade”, afirma Lucylene.
O que você talvez não saiba sobre o leite materno
– O leite muda de composição ao longo do dia e da mamada, adaptando-se às necessidades do bebê.
– Amamentar reduz riscos de hipertensão, obesidade e doenças cardiovasculares futuras.
– O colostro, primeiro leite, é rico em anticorpos e atua como a primeira vacina do bebê.
– O aleitamento exclusivo até os 6 meses é recomendado pela OMS; após isso, manter até os 2 anos ou mais com alimentação complementar.
– O vínculo criado entre mãe e bebê durante a amamentação impacta no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança.
Um compromisso com a vida
O Agosto Dourado é mais do que uma campanha: é uma reafirmação de compromissos com a vida. No ICTDF, isso significa garantir que cada bebê — com ou sem cardiopatia — tenha a oportunidade de crescer forte, amado e bem nutrido. E que cada mãe seja respeitada, acolhida e apoiada em sua jornada.
Porque quando um bebê mama, não é só o corpo que se fortalece. É o vínculo, a confiança e a esperança.