A relação entre diabetes e doenças cardiovasculares é tão próxima que, na prática clínica, muitas vezes são tratadas como parte de um mesmo grupo: as doenças cardiometabólicas. A conexão entre essas condições está no centro de uma das maiores preocupações da saúde pública atual — e tem sido tema recorrente no Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF).
Segundo o médico cardiologista do ICTDF, Gustavo Lopes, o diabetes não apenas agrava, como também pode ser a causa direta de doenças cardíacas como arritmias, infartos e insuficiência cardíaca.
“O diabetes é uma doença que compromete os vasos sanguíneos e o músculo cardíaco. Pode gerar inflamações, formar placas de gordura e prejudicar o funcionamento do coração, muitas vezes de forma silenciosa”, explica.
Além disso, fatores como obesidade abdominal, sedentarismo, alimentação desbalanceada, hipertensão e tabagismo favorecem tanto o surgimento do diabetes quanto das doenças cardiovasculares, criando um ciclo perigoso e interligado.
Controle é chave — e salva vidas
Apesar dos riscos, o diabetes pode ser controlado com sucesso.
“Com acompanhamento médico, tratamento adequado e mudança no estilo de vida, uma pessoa com diabetes pode viver bem e com menos riscos cardíacos. Hoje, inclusive, alguns medicamentos para diabetes também atuam na proteção do coração, o que é um avanço importante”, afirma Gustavo Lopes.
Entre os principais exames de monitoramento está a hemoglobina glicada, que permite avaliar a média da glicemia nos últimos três meses e ajustar o tratamento, se necessário. Já a hipertensão, que costuma caminhar junto com o diabetes, também exige atenção.
“São doenças que, muitas vezes, evoluem sem sintomas, mas já estão causando danos ao coração. Por isso, o acompanhamento é essencial, mesmo na ausência de queixas”, completa o médico.
Alimentação, atividade física e acompanhamento
Os efeitos de uma alimentação saudável e da atividade física regular são positivos para qualquer pessoa — mas em quem tem diabetes e problemas cardiovasculares, esses hábitos fazem ainda mais diferença.
“Nos pacientes com doenças cardíacas, é fundamental adaptar a atividade física com orientação médica. Para quem usa insulina, por exemplo, é preciso ajustar a dose antes dos exercícios. Já a alimentação deve considerar a glicemia, o controle do sal e, em alguns casos, o consumo de água”, orienta Gustavo.
As opções de tratamento também se tornaram mais precisas e eficazes. Medicamentos como enalapril e losartana, por exemplo, ajudam a controlar a pressão arterial e ainda oferecem proteção aos rins em pacientes diabéticos.
“Hoje entendemos melhor a interação entre essas doenças, o que nos permite tratar de forma mais completa e segura”, reforça.
Um olhar integral para o cuidado
No ICTDF, o cuidado com o paciente é feito de forma integrada e com foco na prevenção de complicações.
“Nosso compromisso não é só tratar o que já se instalou, mas antecipar riscos, educar o paciente e promover qualidade de vida. A conexão entre diabetes e coração é clara — por isso, o cuidado precisa ser contínuo, coordenado e humanizado”, destaca o interventor do ICTDF, Marcus Costa.
Os tipos mais comuns de diabetes
Diabetes tipo 1: É uma doença autoimune, geralmente diagnosticada na infância ou adolescência. Nesse caso, o pâncreas deixa de produzir insulina ou produz em quantidade muito pequena. O tratamento envolve o uso diário de insulina e acompanhamento rigoroso da glicemia.
Diabetes tipo 2: É o tipo mais comum e está fortemente associado a fatores como sobrepeso, sedentarismo, alimentação inadequada e predisposição genética. Costuma surgir na vida adulta, mas tem se tornado cada vez mais frequente em pessoas jovens. Pode ser tratado com mudanças no estilo de vida, medicamentos orais e, em alguns casos, insulina.
Diabetes gestacional: Acontece durante a gravidez e exige atenção especial, tanto para a saúde da mãe quanto para o bebê. Normalmente desaparece após o parto, mas aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 no futuro.
Outros tipos de diabetes (menos comuns)
Diabetes tipo LADA (Latent Autoimmune Diabetes in Adults): É uma forma de diabetes autoimune que aparece na idade adulta, com características semelhantes ao tipo 1, mas com progressão mais lenta. Costuma ser confundido inicialmente com o tipo 2, mas geralmente requer insulina após algum tempo.
Diabetes tipo MODY (Maturity Onset Diabetes of the Young): É uma forma hereditária de diabetes causada por mutações genéticas que afetam a produção de insulina. Costuma surgir antes dos 25 anos e pode ser confundido com o tipo 1 ou tipo 2, mas seu tratamento pode não exigir insulina.
Diabetes secundário: Pode surgir como consequência de outras doenças ou do uso prolongado de certos medicamentos (como corticosteroides). Também pode ser provocado por alterações pancreáticas, como pancreatite crônica, tumores ou retirada cirúrgica do pâncreas.
Fique atento! Independentemente do tipo, o diagnóstico precoce e o controle adequado são fundamentais para evitar complicações, especialmente as relacionadas ao coração.