No mês em que se celebra o Setembro Verde, dedicado à conscientização sobre a doação de órgãos, o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF) tem reforçado, ao longo das últimas semanas, sua atuação como centro multitransplantador e referência nacional junto à imprensa local. Nesta segunda-feira (29), em entrevista à Record, o gerente geral de assistência médica e responsável pelo programa de Transplante Hepático do Instituto, André Watanabe, destacou os principais avanços e desafios da área no Brasil e no Distrito Federal.
Segundo o médico, enquanto a média nacional é de 19 doadores por milhão de habitantes, o Distrito Federal encerrou o último período com 15, número abaixo do já registrado em anos anteriores.
“Para nós que trabalhamos com transplantes, isso significa que precisamos, muitas vezes, utilizar órgãos de outros estados. Hoje, cerca de 85% dos transplantes realizados no ICTDF vêm de fora do DF”, explicou.
A logística também é um ponto crítico. No caso do coração, o tempo de isquemia — em que o órgão pode permanecer viável fora do corpo — é de apenas quatro horas, o que exige rapidez extrema em todo o processo.
“Quando os órgãos doados vêm de locais próximos, o processo é facilitado, garantindo melhores condições para o paciente”, ressaltou o médico.
Atualmente, mais de 70 mil brasileiros aguardam por um transplante, sendo a maior fila a de rim, com cerca de 36 mil pessoas. A realidade é dura: estima-se que cerca de 20% dos pacientes em lista de espera não resistam e morram antes de serem transplantados. O especialista lembrou ainda que qualquer pessoa pode ser doadora, desde que manifeste esse desejo em vida e sua família autorize.
“A decisão da família é soberana, mas na maioria dos casos ela costuma respeitar a vontade do ente querido”, completou.
Uma nova chance de vida
A entrevista também contou com o relato de Lorrainy Cândida, de 31 anos, que recebeu um novo coração no ICTDF em 2024. O problema cardíaco começou ainda na adolescência, quando ela tinha apenas 17 anos, e se agravou com o tempo, tornando indispensável o transplante.
Após quatro meses na fila, a cirurgia chegou como um divisor de águas.
“Já na primeira semana percebi a diferença. Antes, eu não conseguia nem pentear o cabelo de tanta fraqueza. Hoje consigo viver normalmente, algo que parecia impossível antes do transplante”, contou.
Histórias como a de Lorrayne refletem o impacto da doação de órgãos na vida de milhares de brasileiros e reforçam a importância de ampliar a conscientização. Como lembrou Watanabe, “cada sim da família pode significar não apenas a transformação da vida de um paciente, mas também a renovação da esperança de todos que aguardam por essa oportunidade”.