Leis Nacional e Distrital que conscientizam sobre doação de órgãos são sancionadas
A última semana foi de vitória
para o transplante de órgãos no País. Na quinta-feira, 9, foi sancionada a lei
que cria a Política Nacional de Conscientização e Incentivo à Doação e
Transplante de Órgãos e Tecidos (Lei 14.722/2023). A norma, que entra em vigor
em 90 dias, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). Na sexta-feira, 10,
o Distrito Federal também teve a Lei Distrital nº 7.335 para a implantação da
Política Distrital de Conscientização e Incentivo à Doação e Transplante de
Órgãos e Tecidos aprovada.
Conforme as propostas, as leis incluem
informar e conscientizar a população sobre a relevância da doação de órgãos e
tecidos; contribuir para o aumento do número de doadores; promover a discussão
e o esclarecimento científico do tema; além de aprimorar o sistema nacional de
transplantes.
Lei
Nacional
Oriundo do Projeto de Lei
2839/2019, do ex-deputado Ricardo Izar, o texto ficou conhecido como Lei
Tatiane, em homenagem à paulista Tatiane Penhalosa, que foi a óbito aos 32 anos
por não conseguir um transplante de coração.
A proposta foi aprovada pela
Câmara dos Deputados em julho passado e pelo Senado em outubro. No Senado, a
matéria foi aprovada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) em 20 de setembro,
com relatório do presidente do colegiado, senador Humberto Costa (PT-PE). O
texto recebeu duas emendas de redação prevendo que a formação continuada de
profissionais da saúde e da educação sejam, posteriormente, objeto de
regulamento.
Lei
Distrital
De autoria do deputado
distrital, Eduardo Pedrosa, a proposta prevê, inclusive, orientações de
acolhimento às famílias enlutadas e acerca da doação de órgãos e tecidos após o
diagnóstico de morte encefálica de pacientes internados em unidades críticas,
de forma livre e esclarecida.
Importância
das novas Leis
Para o presidente do Instituto
Brasileiro de Transplantados (IBTx), Robério Melo, a aprovação das leis são um
grande passo para o aumento dos transplantes no País.
“Atualmente, 62 mil pessoas
estão na fila aguardando por doação de órgãos no Brasil. Com a lei, o espaço de
discussão para a ser mais amplo e a sociedade civil passará a contar com mais
informações sobre a causa, o que, certamente, facilitará o aumento das doações
que, sem esse espaço, ainda hoje é um tabu” avalia.
Além disso, o presidente do
IBTx destaca que, já de encontro ao que a Lei nº 14.722/2023 e Lei Distrital nº
7.335 apresentam, vários projetos já estão em andamento.
“Desde sua criação, o Instituto
já vinha com a ideia de realizar palestras em escolas e levar para os centros
de ensino de enfermagem e medicina as pautas referentes ao transplante de
órgãos. Agora, teremos ainda mais força para colocar essas ações em prática,
visto que já estamos em tratativas com a UNB para o desenvolvimento dessas
ações”, acentua.
Para o médico, responsável pela
área de transplante cardíaco do ICTDF, Fernando Atik, as novas legislações
trarão mais estímulos para a disseminação das informações sobre doação e
transplante.
“Os critérios atuais
necessários para se doar órgãos, continuam os mesmos. No que as leis inovam é
que, com os programas de governo sendo instituídos para a disseminação das
informações, certamente a população terá mais subsídios para concordar com a
doação de órgãos e o número de transplantes deve aumentar”, avalia.
Estatísticas
Segundo dados do Ministério da
Saúde, até agosto deste ano foram realizados 5.914 transplantes de órgãos, o
que representa mais do que o dobro dos 2.435 mil procedimentos desse tipo
realizados no mesmo período de 2022. Quando considerados os transplantes de
córnea e de medula óssea, até agosto deste ano foram realizados 18.461
procedimentos, enquanto no mesmo período do ano passado o total registrado foi
de 16.848.
O DF detém um dos melhores
índices de transplantes de órgãos e tecidos do Brasil. De janeiro a agosto
deste ano, a média de transplantes de órgãos por milhão de habitantes na
capital federal foi a maior do país, com 107,2 - a média nacional é de 43,1.
Na rede pública do DF, três
unidades realizam transplantes. No Hospital de Base e no Hospital Universitário
de Brasília são feitos os procedimentos para rim e córnea. Conveniado à
Secretaria de Saúde (SES-DF), o Instituto de Cardiologia e Transplantes do DF
(ICTDF) realiza aqueles que incluem coração, rim, fígado, córnea e medula
óssea.
Doação de
Órgãos e Tecidos
Pouca gente se dá conta, mas,
além do doador falecido, é possível doar alguns órgãos em vida.
O doador vivo pode ser qualquer
pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde.
Dentre os órgãos viáveis estão: um dos rins, parte do fígado, da medula óssea
ou do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser
doadores. Àqueles que não possuem um laço familiar, é permitido apenas com
autorização judicial.
Já o doador falecido é vítima
de lesões cerebrais irreversíveis, com morte encefálica comprovada pela
realização de exames clínicos e de imagem. As causas mais comuns são
traumatismo crânio-encefálico e acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico ou
hemorrágico (também conhecido como derrame cerebral).
O diálogo é parte essencial do
processo de doação de órgãos, uma vez que, no Brasil, ela só ocorre mediante
autorização familiar. Recomenda-se, portanto, deixar claro o desejo de ser
doador, conversando com pessoas próximas ou sinalizando em documento como a
carteira de identidade, por exemplo.