Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos: serviços realizados no ICTDF auxiliam Brasil a manter 2ª colocação global
Para quem está na lista de espera por um órgão, certamente a
realidade é uma mistura de ansiedade e incerteza no aguardo do dia em que a
vida poderá recomeçar após o tão sonhado transplante. Mas, apesar da angústia
que é para quem espera, o Brasil tem motivos para comemorar: de acordo com
informações do Ministério da Saúde (MS), o País é referência mundial em doação
e transplantes de órgãos, garantido de forma integral e gratuita pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), responsável por financiar e fazer mais de 88% de todos os
transplantes de órgãos do país.
De janeiro a novembro de 2021 foram realizados mais de 12
mil transplantes de órgãos pelo SUS. Em 2020, foram cerca de 13 mil
procedimentos do tipo. Conforme divulgado no relatório da Associação Brasileira
de Transplante de Órgãos (ABTO) do último ano, em números absolutos, o Brasil
figura como 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos
(EUA) sendo que a rede pública fornece aos pacientes a assistência necessária,
incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos
pós-transplante.
Em todo o mundo, o número de transplantes sofreu queda
devido à pandemia da Covid-19, em 2020 e 2021. Conforme dados do MS, enquanto
alguns países paralisaram totalmente os programas de transplantes, o Brasil
manteve cerca de 60% dos procedimentos. Não houve interrupção dos processos e
as atividades de doação de órgãos foram mantidas, observando as normas de
segurança para as equipes envolvidas, para os candidatos a transplantes e para
os pacientes transplantados.
De forma que, de acordo com o tesoureiro da ABTO, Fernando
Atik, o incentivo aos serviços na área é absolutamente essencial para a
sustentabilidade do sistema e ampliação dos atendimentos.
“Infelizmente, há subfinanciamento do SUS na área de
transplantes apesar de grande investimento público. O modelo de remuneração por
desempenho e indicadores de qualidade está em fase inicial de implementação no
Brasil. Além disso, aproximadamente um quarto da população atendida tem plano
de saúde privado. A incorporação do transplante na tabela da saúde suplementar
traria maior aporte financeiro ao sistema de transplantes do País”, destaca.
Fernando Atik também avalia que, apesar do Brasil estar tão
bem colocado no quesito transplantes, há ainda uma grande sensibilidade no
debate do tema.
“Esse tema é muito sensível e importante. Campanhas de
conscientização da população são fundamentais para que haja uma discussão ampla
e madura da sociedade sobre o assunto”, considera.
Atualmente, o Brasil tem 56.847 pacientes aguardando
transplantes. A maioria (32.481) aguarda a doação de um rim (dados divulgados
pelo Ministério da Saúde no dia 06 de junho 2022). A fila cresceu 7% em relação
a setembro de 2021, quando havia 53.218 pacientes na espera. O aumento foi de
27% em comparação com agosto de 2019, quando 44.689 pessoas estavam inscritas
para receber um órgão ou tecido.
ESTRUTURA DO SISTEMA
NACIONAL DE TRANSPLANTES
No Brasil, existem, atualmente, uma central nacional e 27
centrais estaduais de transplantes; 648 hospitais, 1.253 serviços e 1.664
equipes de transplantes habilitados; 78 organizações de procura por órgãos; 516
comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos para transplantes;
52 bancos de tecido ocular; 13 câmaras técnicas nacionais; 12 bancos de
multitecidos; 13 bancos de cordão de sangue umbilical e placentário; além de 48
laboratórios de histocompatibilidade.
Em meio a esses números, dos 153 centros de transplantes de
órgãos relacionados em publicação do artigo ‘Transplantes de órgãos sólidos no
Brasil: estudo descritivo sobre desigualdades na distribuição e acesso no
território brasileiro, 2001-2017*’ feito por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação
em Ciências e Tecnologias em Saúde da Universidade de Brasília publicado na
revista “Epidemiologia e Serviços de Saúde”, apenas 11,8% dos serviços de
transplantes de órgãos sólidos se concentram nas regiões Norte e Centro-Oeste
do País, sendo 7 e 11 unidades respectivamente.
REFERÊNCIA NACIONAL
Uma das unidades em destaque na região Centro-Oeste, é o
Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF) que, como
referência nacional, recebe pacientes advindos de várias Unidades da Federação
através de encaminhamento da Central Estadual de Transplantes (CET) /
Tratamento Fora do Domicílio (TFD).
Realizando atendimentos de alta complexidade cardiovascular
e transplantes de coração, fígado, rim, córnea e medula óssea, o ICTDF iniciou
seu Programa de Transplantes em 2007 e, até o momento, já realizou 2.030
procedimentos. Sendo que apenas no primeiro trimestre deste ano, das 596
pessoas transplantadas no Brasil, 96 desses procedimentos foram feitos no
Instituto.
A enfermeira responsável pelo Programa de Transplantes do
ICTDF, Carolina Couto, destaca que, como forma de suprir a necessidade local e
das regiões Norte e Centro-Oeste, a partir de 2011 o Instituto também recebeu
habilitação para realização de procedimentos de fígado, e, posteriormente, em
2013, rins, córneas e medula óssea também passaram a ser transplantados pelo
SUS, sendo que, atualmente, é o único hospital que realiza transplantes de
coração, fígado e medula óssea (adulto) pelo Sistema Único de Saúde no DF,
atendendo também a muitas demandas regionais.
“Hoje, o tempo de espera por um órgão compatível e a
realização do transplante no DF é muito menor, se comparado a outros estados.
Segundo dados da ABTO, de janeiro a setembro do último ano, o DF realizou 33,2
transplantes de fígado (por milhão de população) se destacando no cenário
nacional. Em 2020 foram realizados 100 transplantes de fígado no DF, sendo 60
desses procedimentos feitos pelo ICTDF. E, assim como no transplante hepático,
o DF também foi o grande destaque no transplante cardíaco, onde realizou 7,3
transplantes por milhão de população no mesmo período, o que nos coloca entre
os cinco centros transplantadores que mais realizaram transplante de coração no
País, sendo que 100% desses procedimentos foram realizados no Instituto de
Cardiologia e Transplantes”, evidencia Carolina.
Carolina acentua que o ICTDF se destaca também pelo volume
de transplantes cardíacos já realizados.
“Os transplantes de coração iniciaram em 2009 e de lá para
cá somos um dos cinco hospitais do País a chegar ao marco de 300 transplantes
cardíacos realizados – atualmente são 327 corações transplantados. Além disso,
temos uma taxa de sobrevida bastante satisfatória, que nos últimos cinco anos
tem ficado em torno de 70%”, salienta.
Com o serviço prestado pelo ICTDF, o Distrito Federal também
lidera o ranking em relação ao Transplante de Medula Óssea (TMO), realizando em
2020, 33,5 transplantes por milhão de população (pmp).
“Sendo o único centro transplantador desta modalidade pelo
SUS em pacientes adultos, a qualidade na realização dos procedimentos pode ser
observada através da taxa de sobrevida e rejeição ao longo do tempo que
atualmente está em 78%, um número bastante importante em relação às referências
nacionais”, informa Carolina Couto.
Atualmente, de acordo com as informações da Sala de Situação
– do site InfoSaúde (dados referentes a maio/2022), que computa o
acompanhamento dos pacientes que constam na lista da Central de Regulação do DF
para realizar transplante de órgãos e tecidos, o ICTDF lidera o ranking do
número de transplantes realizados pelo SUS na Capital Federal, sendo que a
lista de espera por um procedimento do tipo conta com 1.023 pessoas. Destes,
592 aguardam por um rim, 387 estão na lista de espera por córneas, 28 esperam
por um coração e 16 estão aguardando por um fígado na classificação atribuída
ao DF.
COMO FUNCIONA A
DOAÇÃO DE ÓRGAÕS
Há dois tipos de transplante: intervivos, menos comum,
possível apenas para alguns órgãos, como o rim e tecidos como a medula óssea; e
o transplante de doador falecido. Neste segundo caso, o transplante de órgãos
somente é considerado quando o doador recebe diagnóstico de morte encefálica, o
órgão-alvo da doação mantém-se em funcionamento, o consentimento dos familiares
é obtido e, conta-se com o consentimento expresso do receptor.
Tal sistemática foi estabelecida com a publicação da Lei no
9.434/97, posteriormente alterada pelo Decreto no 9.175/2017, o que permitiu a
implantação do sistema centralizado de captação e distribuição de órgãos no
país. No âmbito do SUS, as informações sobre transplantes de órgãos e tecidos
são gerenciadas pelo Sistema Nacional de Transplantes.
Uma vez constatada a necessidade do transplante, o candidato
é inscrito em uma fila de espera única e exclusiva para cada órgão. A principal
particularidade dessas listas reside nas especificações de alocação de
prioridade dos pacientes, considerando-se não apenas a ordem de ingresso como,
também, critérios fundamentados relativos a condições médicas, principalmente
relacionadas à compatibilidade e gravidade da doença.
A opção pelo transplante como modalidade terapêutica
constitui um tratamento em si, seguro e eficaz, dada a otimização do
procedimento cirúrgico, seu acesso gratuito, o advento de medicamentos
imunossupressores e a ampliação do entendimento dos mecanismos de rejeição e
compatibilidade. Porém, transplante não significa cura do problema de saúde: o
receptor permanecerá, por toda a vida, sob os devidos cuidados pós-transplante.
QUAIS ÓRGÃOS PODEM
SER DOADOS
A doação pode ser de órgãos (rim, fígado, coração, pâncreas
e pulmão) ou de tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem,
medula óssea e sangue de cordão umbilical). Outros órgãos como rim, parte do
fígado ou da medula óssea podem doados em vida, os demais ocorrem apenas quando
há morte encefálica confirmada ou parada cardiorrespiratória.
Os órgãos doados são destinados a pacientes que aguardam em
uma lista única, definida pela Central de Transplantes da secretaria de Saúde
de cada estado, controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT),
coordenado pelo Ministério da Saúde.
COMO INFORMAR SOBRE A
VONTADE DE DOAR ÓRGÃOS
No Brasil, a doação de órgãos ou tecidos depende da
autorização dos parentes dos pacientes, o que enfatiza a necessidade de que se
comunique aos familiares o desejo de ser um doador ou doadora. De acordo com
estimativas do Ministério da Saúde, cerca de 38,4% das famílias ainda recusam a
doação de órgãos.
A resistência está associada principalmente à desinformação
sobre a necessidade da doação de ossos, tendões, peles, tecidos e órgãos para
garantir a qualidade de vida de outras pessoas, além da falta de compreensão
sobre o que é morte encefálica.
O QUE É A MORTE
ENCEFÁLICA
A morte encefálica é um quadro irreversível de morte das
células do sistema nervoso central, que leva à interrupção da circulação
sanguínea no cérebro. A condição é confirmada a partir de protocolos de
segurança e diagnóstico.
A equipe médica deve informar aos familiares de maneira
didática que não há nenhuma chance de o paciente acordar. Nesse momento crucial
para a doação de órgãos, deve ser explicado à família como funciona o
procedimento de retirada dos órgãos, deixando claro que o corpo do paciente não
sofrerá qualquer tipo de alteração perceptível.
A partir da autorização, os órgãos são retirados e tem
início o protocolo para os transplantes, que requer agilidade. Após a retirada,
eles devem ser implantados nos pacientes o quanto antes.
Segundo o Ministério da Saúde, as principais doenças que
levam ao transplante são infarto extenso do miocárdio, hipertensão arterial
grave, doença de Chagas, enfisema pulmonar, fibrose pulmonar, cirrose hepática
e alcóolica, tumores malignos e diabetes.
Pacientes com morte encefálica podem doar rins, coração,
pulmão, pâncreas, fígado, intestino, córneas, válvulas, músculos, ossos,
tendões, pele, cartilagem, medula óssea, sangue do cordão umbilical, veias e
artérias.
QUEM PODE DOAR ÓRGÃOS
A doação de um órgão é um ato espontâneo de amor ao próximo
e deve ser totalmente desprovida de qualquer forma de interesse.
O doador pode ser um parente ou não, vivo ou em morte
cerebral. A vantagem de o doador ser parente está na melhor sobrevida do
paciente e enxerto, uma vez que existe uma semelhança imunológica ou
compatibilidade entre o doador e receptor. Existe ainda o grupo de doador vivo
não parente, os cônjuges ou amigos, que apresentam resultados melhores que os
obtidos com doador em morte cerebral e comparáveis com os relacionados.
O doador vivo, antes de ser aceito, é submetido a um grande
número de exames e a um interrogatório detalhado com a finalidade de se
comprovar uma perfeita condição física e emocional para que possa ser aceito.
REJEIÇÃO
As células do sistema imunológico percorrem cada parte de
nosso corpo, procurando e conferindo se há algo diferente do que estão
acostumadas a encontrar. Essas células identificam o órgão transplantado como
sendo algo diferente e tentam combatê-lo; este processo é chamado de rejeição.
Potencialmente ocorre rejeição em todos os transplantes; no
entanto, existem inúmeras variáveis que interferem neste processo. Um exemplo é
que quanto maior o grau de compatibilidade entre o doador e o receptor, mais
fácil o controle e menor a chance de ocorrer rejeição.
ACOMPANHAMENTO
PÓS-TRANSPLANTE
Habitualmente, o paciente é tratado com medicamentos
específicos para controlar a rejeição e, se mesmo assim ela ocorrer, pode-se
aumentar a dose ou trocar o medicamento.
A maioria dos episódios de rejeição é passível de
tratamento. Existem situações extremas em que a rejeição pode ser responsável
pela perda da função do órgão transplantado, embora essa seja uma complicação
pouco frequente.
O sucesso depende de inúmeros fatores como: o tipo de órgão
a ser transplantado, causa da doença, condições de saúde do paciente,
características do doador e sua compatibilidade com o receptor.
O transplante requer uma grande compreensão por parte dos
pacientes, principalmente pela necessidade de acompanhamento médico periódico;
por outro lado, oferece uma condição de vida altamente compensadora.
Fonte: Ministério da Saúde